O lobo malicioso e a esperteza da cegonha
Havia um lobo muito faminto que vivia de olho nas aves que margeavam o rio São Francis co.Ele não dava trégua, pois estava sempre pronto para dar o bote nos desavisados. A comadre cegonha,alerta como ela só, dizia para a comadre arara, que vivia cochilando:
— Olha comadre, cuidado! Cochilou, o cachimbo cai. Comadre fique atenta, pois o babão está na área.
— O que foi? Onde? Cadê?
De repente, nhac!!!O lobo pegou a arara desatenta.
—Eu é que não fico de bobeira.Estou de olho vivo nesse faminto. Nunca vi em toda a minha vida alguém devorar um almoço como esse excomungado. É só olhar para a gente que ele começa a babar...
— Que é isso comadre,eu estou babando não é por causa da senhora, não!É que eu masquei fumo e, por isso, estou com água na boca – desculpava-se o canino. Vou comer a arara para salgar um pouco a boca.
— Está a me enganar— Disse a cegonha. Tomara que você se entale comilão.E do jeito que come, não vai demorar muito. E você há de precisar de mim, você vai ver. Praguejou a ave.
— Há, há, há. Eu?Precisar de você? Nunca! Pelo contrário, você é quem vai precisar de mim...
Na verdade, o lobo tinha a cegonha como grande rival e não via a hora de devorá-la, até porque dentre as aves era a mais gordinha.
Enquanto comia vorazmente a arara,o lobo ficou com um osso atravessado na garganta e como não conseguia tirá-lo, pediu à cegonha que o tirasse com o seu bico grande e comprido prometendo-lhe uma recompensa em troca.
A cegonha aceitou o trato, mas muito esperta e por precaução, pôs um galho grosso de madeira atravessado entre os dentes do lobo. Depois, enfiou cuidadosamente o bico na boca do carnívoro, tirando-lhe o osso da garganta.
Em seguida perguntou ao lobo sobre a recompensa, ao que ele respondeu:
— Acha mesmo que vou te dar alguma coisa?Já não basta impedir-me de comer a sobremesa?
A cegonha respondeu:
— É verdade compadre, já me deste a recompensa, pois estiveste comigo entre os dentes e não pôde comer-me!
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