Algum caçador online?Quem era aquele menino que gostava tanto de caçar borboletas dentro do mato?Algum caçador online que queira saber um pouco dessa história tão sublime?Algum caçador online que tenha coragem para libertar as borboletas que se debatem dentro da televisão do astuto carpinteiro?Você vai gostar de conhecer essa história...Algum caçador online para dizer alguma coisa ou sentenciar o homem que interrompia a vida das borboletas?
O caçador de borboletas e sonhos
Hoje
descobri que o meu espelho usual está com algum defeito e lamento mostrar a ele
um pouco de minha ingratidão. Pois, ele que ao longo do tempo me fez o favor de
tão calado, refletir cada imagem que fora se transformando em diversas páginas
de minha vida; parece que guardou para si a minha infância e, escondeu em meio
a sua luz, aquele menino tão sonhador, que fazia dos matagais, o seu cenário; e
nele, interpretava o seu melhor papel; que era o de caçar borboletas, sem
nenhuma armadilha que não fossem as mãos e, sem nenhuma intenção em feri-las;
embora muitas das vezes, esmagando algumas delas e, experimentado o gosto
amargo do remorso que lhe fazia sentir o rosto queimar pelas lágrimas que lhe
escorria dos olhos; ali mesmo dentro do mato, escondido.
Caçava-as
por amor e admiração; sem mesmo se importar com o prenúncio de suas histórias.
Caçava-as inebriado pela beleza tão rara e singela, sem se importar com o
percurso ou o desfecho de suas histórias. Caçava-as porque as queria para si,
sem imaginar o quanto estava sendo egoísta. Caçava-as e mesmo sem querer
escrevia um triste “fim” em seus ciclos de vida; e mesmo assim, caçava-as.
E
quando findava o dia, e a imensa escuridão da noite não lhe permitia mais
enxergá-las dentro do mato, ele ainda as assistia dentro daquela televisão que
era obra dele mesmo; um aprendiz de carpinteiro, que aspirava ser eletricista,
e queria enfeitar a vida com beleza e poesia.
E
a sua televisão era apenas uma invenção artesanal; uma caixinha tão pequena
feita com sarrafos de madeira, cola, pedaço de plástico colorido e, que na sua
sapiência de menino sonhador, ganhava iluminação através de um furinho em uma
de suas laterais, o qual abrigava uma lâmpada tão minúscula que carregada por
uma pilha de rádio, a fazia ter o aspecto de algo que, na época estava tão
aquém das possibilidades de alguém que era apenas mais um, a sonhar com alguma
coisa em meio a tantas adversidades; uma delas, a falta de energia elétrica
naquele bairro tão esquecido lá no fim do mundo.
Hoje
que já sei que, as borboletas surgem de uma lagarta, desenvolvem-se dentro de
um pequeno casulo, batem as asas esforçando-as para fortalecê-las, e depois
saem para o primeiro voo que dá início a outros tantos, numa existência tão
simplória de apenas vinte e um dias, queria reencontrar aquele menino para
contar-lhe tudo isso; dizer-lhe que a história das míseras borboletas que
aprisionava em sua televisão feita de sonhos, tinha começo, meio e fim e que
por muitas das vezes era ele quem mutilava o sonho de vida de algumas delas
quando, embaixo do cobertor adormecia encantado olhando-as a se debaterem
suplicando liberdade.
Queria
reencontrar o menino, não para acusá-lo por sua atitude tão cruel, por impedir
que as borboletas vivessem seus vinte e um dias, e que por muitas das vezes ele
não as permitiu viver mais que um ou dois, pois nunca soube há quanto tempo
haviam se libertado do casulo e novamente as obrigava a machucar as asas,
dentro daquela invenção de carpinteiro.
Queria reencontrá-lo, não para condená-lo por
muitas das vezes ter acordado pela manhã e encontrar uma delas tão imóvel
dentro daquela caixinha com cheiro de fúnebre.
Queria
reencontrá-lo não para impedi-lo de novamente adentrar no matagal e caçar
quaisquer outras vítimas que pudesse interpretar tamanha beleza para ele.
Queria reencontrá-lo para, sobretudo lhe dizer
que: As borboletas são tão frágeis como ele, sensíveis como ele, e que elas,
após a dor da metamorfose e a prisão do casulo, simplesmente voavam, enquanto
ele dava asas a sua imaginação.
Ah,
se eu pudesse encontrar aquele menino tão apaixonado pelas borboletas; que
nunca havia se dado conta de suas histórias...
Mas
o espelho o escondeu e, hoje me mostra apenas um rosto tão cheio de rugas,
envelhecido pelo tempo que passou tão devagar dentro daquela cela fria, onde o
mundo podia lhe ver através da televisão de verdade; enquanto ele, não podia
ver o mundo.
E o meu espelho tão
desinteressado se despede de mim, com a desculpa de que precisa voltar ao
tempo, e que isso requer muito sacrifício, pois, até reencontrar o menino que
ficou perdido no tempo e encantado pelas borboletas lá dentro do mato, será
preciso reviver muitas outras histórias que não valem a pena recordar...
Porém,
mesmo sem vê-lo, tenho a certeza que ele não fugiu do espelho, assim como
nenhuma daquelas míseras borboletas nunca fugiam da sua televisão.
Tony Caroll
Este conto faz parte do livro "Ternura coração e fotografias" e está protegido Lei de direitos autorais lei de direitos autorais.Todos os direitos de publicação estão reservados ao autor.